38ª Corrida da Liberdade

22:53 4 Comments

No ano em que se comemoram os 41 anos do 25 de Abril foi também realizada a 38ª edição da popular Corrida da Liberdade. Esta corrida é diferente de todas as outras já que tem a particularidade de ser de carácter participativo e não competitivo, isto é, não existem classificações nem chips para os atletas. 
O importante é a participação, o convívio e a boa disposição.

Chegado à Pontinha fui ter com os amigos dos 4 ao Km para a foto da praxe, sendo que desta vez quase não cabíamos todos. Estavam presentes 8 elementos da equipa entre os quais todos os Maratonistas de Paris. Aliás estávamos todos um pouco curiosos para ver como é que o corpo reagia depois da Maratona duas semanas antes.


Como de costume nesta prova, o grande número de participantes faz com que o início da prova seja mais lento, o que acabou por não ser mau de todo já que não estourei antes do final como na meia da Ponte.

Aos poucos eu e o meu amigo Pires fomos aumentando o ritmo e para alguma surpresa minha o corpo ia reagindo bem. Entre a Maratona de Paris e esta prova passaram-se duas semanas nas quais só fiz um treino de 5 Km. É verdade que esse treino tinha corrido melhor do que eu estava à espera, mas mesmo assim não contava que estivesse tão bem na prova.



Com metade da prova feita ficavam a faltar cerca de 5 Km, nos quais íamos apanhar os famosos túneis do Campo Grande. Como andei mais afastado das provas no inicio do ano já tinha algumas saudades de correr por esta zona. Essas saudades passaram assim que cheguei à subida do primeiro túnel :)

Foi nestas subidas que tive mais dificuldades, já que tentava manter o ritmo durante a subida e depois acabava por ter de recuperar quando o terreno ficava novamente plano. Isto acabou por fazer com que a média destes quilómetros fosse mais lenta em relação ao que vínhamos a fazer.

Depois do último túnel a estrada engana um pouco, é o chamado falso plano. Parece que vamos a direito mas na realidade vamos a subir ligeiramente. Talvez devido a isso, sempre que faço provas com este percurso tenho dificuldades em recuperar da subida do ultimo túnel e acabo por ter de usar a descida a seguir ao Saldanha para recuperar. 

Quando chegámos ao Saldanha disse ao Pires para ir andando. Eu queria acelerar na descida mas antes disso queria aproveitar a fase inicial, pelo menos até Picoas, para recuperar um bocadinho. Com a recuperação feita comecei a tentar embalar por ali abaixo, e pelos ritmos que fui fazendo parece que consegui realmente embalar :)

Na parte final da Avenida da Liberdade onde o terreno volta a ficar plano, tentei acelerar ainda mais um bocado para cortar a meta abaixo dos 57 minutos. Não foi possível mas o resultado final acabou por ser bastante positivo: 57:04 para 10,7 Km. 



Comecei a prova com curiosidade para ver como o corpo se comportava depois do esforço da Maratona e o resultado acabou por ser bastante positivo. Não esperava um desempenho tão bom apenas duas semanas depois de fazer os 42 Km.

No final fiquei um pouco à espera dos restantes colegas de equipa e depois de estarmos um pouco à conversa acabei por voltar para casa a correr na companhia do Orlando.



A Minha Prova

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39ª Maratona de Paris

22:37 21 Comments

Depois de bastantes meses à espera, sexta-feira dia 10 de Abril pelas 4 horas da manhã estava finalmente a começar o fim de semana da Maratona. O avião estava marcado para as 06:45 e como de costume nestas situações prefiro ir cedo para o aeroporto. Quando lá cheguei e depois de despachar as malas (tudo o que era de corrida estava na mala de cabine) encontrei-me com os amigos dos 4 ao Km que também iriam para esta aventura, o João Lima, a Isa o Vitor, o Orlando e a família.



A viagem de avião correu sem problemas e chegámos a Paris à hora prevista. Depois de apanhar o autocarro e o metro chegámos ao apartamento que estava reservado à quase um ano. Aliás o nosso anfitrião disse mesmo que éramos os campeões das reservas. Nunca tinha tido uma com tanta antecedência. A ideia era deixar as malas e seguir logo para a Sport Expo e ter o tão ambicionado dorsal nas mãos.

Nos últimos dias tinha estado mais calmo do que pensava que ia estar, mas com o aproximar da hora de levantar o dorsal e ao longo da viagem de metro para a Sport Expo o nervosismo foi aumentando cada vez mais. 



Depois de uma curta fila para entrar estava finalmente lá dentro o espaço era enorme e logo à entrada estavam vários balcões para apresentar o certificado médico (que quem não tivesse não poderia levantar o dorsal). Com o carimbo de válido no certificado passei aos balcões seguintes, os dos dorsais. Não faltavam balcões para levantar o dorsal, todos separados pelos blocos de tempo correspondentes aos da partida e imensos voluntários para que tudo corresse sem problemas.

Foi com bastante emoção que recebi o dorsal e comecei logo a abrir o envelope. 



Os minutos seguintes foram dedicados a uma série de fotos com o dorsal em tudo o que era painéis grandes dedicados à maratona. Passado um bocado encontro-me com os restantes 4 ao Km e tirámos agora as fotos com todos os elementos da equipa e respectivos dorsais.



Com os preciosos dorsais no saco e com a barriga já a dar horas fomos para a Pasta Party. Já não estava muita gente a comer e rapidamente fomos servidos e começamos a degustar aquela fabulosa massa. Não, não era fabulosa, mas com a fome que estava soube bastante bem :)



Nunca tinha estado numa prova desta dimensão e por isso era tudo novidade, para quem está habituado a uma Sport Expo tipo as da Meia da Ponte, entrar neste pavilhão era como entrar noutro mundo. Ao sair da zona dos dorsais passava-se obrigatoriamente no enorme stand da Asics, eu parecia uma criança no meio daquilo todo, olhava para todo o lado a tentar absorver tudo o que se passava à minha volta e arrastando sempre os meus pais e a Rita atrás de mim. Saindo da Asics havia stands de outras marcas de ténis e depois entrava-se numa zona mais dedicada a outro tipo de equipamentos, nutrição e diferentes provas.



Para desespero dos meus pais e da Rita o resto da tarde foi passado a ver todos estes expositores. Quando saímos da feira fomos ainda às compras para o resto da semana e finalmente chegámos ao apartamento. 

Ao chegar ao apartamento sentia-me completamente esgotado, tinha acordado bastante cedo e as muitas horas em pé na Sport Expo tinham deixado marca, mas foi a primeira vez numa coisa desta dimensão e queria aproveitar tudo. Com o cansaço que sentia no final do dia fiquei um pouco preocupado sobre como iria estar no dia da Prova.

Quando acordei no sábado ainda mais preocupado fiquei, já que sentia o corpo todo dorido, era pernas, era costas, era braços, só pensava em como é que ia conseguir correr no dia seguinte. Felizmente ao longo do dia essa sensação foi desaparecendo. Planeámos um dia mais calmo para sábado para que não ficasse muito cansado e por isso demos só uma volta pelo Sacré Coeur de manhã e passámos o almoço e a tarde em casa de um tio da Rita, ou seja foi um dia calminho que deu para descansar e hidratar bem antes da prova. 

À noite estive a preparar o equipamento todo para o dia seguinte e fui para a cama mais mais calmo do que pensava que ia estar.



O dia da prova começou as 07h e para dia de prova nada melhor que acordar com um "Tan Tan tararan Tan Tan Tararaarn" (percebe-me que é a musica do Rocky não se percebe?). Enquanto tomava o pequeno almoço e me equipava continuei a ouvir uma playlist pré-prova. Nos treinos e provas nunca levo musica, mas antes de começar a historia é outra. Quando vou de carro para o local de uma prova gosto de ouvir determinadas musicas. Domingo foram estas:


Pequeno almoço tomado, equipamento vestido e toca a sair para o metro. Nesta altura comecei a sentir-me cada vez mais dentro do ambiente Maratona, ao longo da viagem via-se cada vez mais atletas e é inevitável ficar contagiado pelo entusiasmo que está no ar, especialmente quando se sai do metro na estação a meio dos Champs-Élysées e damos por nós rodeados de milhares de atletas e famílias.




Enquanto subia a Avenida para me encontrar com os meus colegas de equipa deu para ir vendo a partida de outros blocos de tempo que partiam mais cedo. Em frente à Peugeot lá estavam eles e uma surpresa: a Sandra e o Nuno tinham ido de propósito de Portugal para ver a prova.



Conversa para aqui, fotos para ali e estava na hora da despedida da família e de entrar para a zona de partida. O nervosismo aumentava ao mesmo ritmo que o entusiasmo. Aos poucos fomos descendo pelos Champs-Élysées, e sempre que parávamos lá estava eu aos saltinhos no lugar, não conseguia estar parado. 

À hora marcada foi dada a partida, mas primeiro para quem estava do lado esquerdo da Avenida, ou seja lá tive de esperar mais 5 minutos até começar finalmente a correr. Enquanto cruzava a linha da partida só pensava "estou a correr nos Champs-Élysées, estou a correr nos Champs-Élysées"... fantástico. Ao olhar para trás uma vista fantástica dos Champs-Élysées com o Arco do Triunfo ao fundo. Para a frente montes de cabeças e roupas coloridas a encher o que restava da Avenida e até à Place de la Concorde, a aventura estava a começar.



Km 0 a Km 10

Ao contrário de sábado que esteve frio e de chuva, no Domingo o dia estava fantástico e nos quilómetros iniciais sentia-me bastante bem, não era a primeira vez que corria, mas ali tudo era novidade. Havia muitos companheiros de prova de várias nacionalidades e muito publico na rua mas ao contrário do que pensava nem sempre muito participativo. Aliás este foi a única coisa em que fiquei desapontado na prova.

Estes quilómetros iniciais fizeram-se bem, acabei por seguir com o João e fomos sempre conversando e acenando a quem nos ia aplaudindo. Seguíamos na direcção da Place de la Bastille onde estava o 1º abastecimento e onde iria também ter o primeiro encontro com a família, o que resultou numa grande festa :)




Nesta altura ainda continuava maravilhado pelos sítios por onde corria e por todo o ambiente envolvente na prova, tanta gente, tantos sítios emblemáticos era impossível não me sentir maravilhado com tudo. Para contrariar este sentimento de maravilha comecei a sentir que teria de fazer uma paragem técnica, ainda pensei em adiar mas com tantos quilómetros pela frente mais valia despachar isso assim que possível, mas nada de casas de banho por ali.



Sabia que em breve imos entrar no Bois de Vincennes e de certeza que não iam faltar árvores por lá. Nestes coisas os homens têm mais facilidade que as mulheres, mas assim que apareceram as primeiras árvores foi ver não só homens mas também mulheres a sair da estrada para ir à primeira árvore que aparecia fazer o que havia a fazer, nunca tinha visto nada assim, a corrida realmente liberta as pessoas, nesta altura não havia qualquer pudor. Aproveitei e fui também a uma árvore despachar o problema. Descobri depois que 500 metros mais à frente havia casas de banho...

Tinha combinado com o João previamente que ele seguia um pouco mais devagar e que eu depois acabava por o apanhar mas com esta ida à "Árvore-de-banho" acabei por perdê-lo de vista e só o voltei a encontrar já depois da meta. Tinha portanto mais 32 Km sozinho pela frente.

Km 10 a Km 21

Nesta fase do percurso não há grande história, fomos correndo pelo bosque até chegar ao impressionante Château de Vincennes onde começámos o retorno para dentro de Paris. Essa re-entrada na cidade aconteceria pouco antes da marca da Meia Maratona.

Nestes quilómetros ainda deu para conversar com 2 outros atletas. O 1º era o Marcelo atleta brasileiro mas também com nacionalidade Portuguesa (alias era a nacionalidade do dorsal) e que tinha vindo do Rio de Janeiro para fazer a sua primeira Maratona, e tal como eu também tinha feito no máximo 30 Km. Segui à conversa com ele durante cerca de um quilómetro mas como estávamos a seguir a um ritmo superior ao que eu queria fazer acabei por me despedir e ficar para trás. Mais à frente a história de vir a Paris para a 1ª Maratona repetia-se mas desta vez com um atleta do Alaska. 


Ao longo de todo o percurso ia sempre olhando para os lados a ver se via alguém conhecido e algures para o Km 15 foi a vez da Sandra e do Nuno que estavam por ali a tirar fotos e a incentivar, nova festa, acenos e siga.

Tinha ideia que os abastecimentos estavam de 5 em 5 Km e ao ver-me aproximar do Km 15 decidi mandar a agua que ainda tinha na garrafa fora para apanhar uma nova que estivesse fresca. O problema foi que o abastecimento teimava em não aparecer e comecei a ficar preocupado e a insultar-me pela estupidez de mandar fora a água antes de ter uma nova na mão. Mais perto do 16 aparece finalmente a placa a dizer que daqui a 200 metros estaria o esperado abastecimento. 

Mas a historia da água não fica por aqui. Com uma garrafa nova na mão segui viagem e um pouco mais à frente num dos vários acenos de agradecimento que vinha a fazer, a garrafa ganha vida e salta-me para o chão. Com a atrapalhação e para não estar a parar e a baixar-me para a apanhar acabei por seguir. Com o passar dos quilómetros e mais para o fim da prova questionei-me se teria sido a melhor opção.

Ao sair do bosque entrámos numa zona residencial que se iria prolongar até uns quilómetros à frente da Meia Maratona. Ao passar neste ponto estava novo abastecimento e vi que não é só em Portugal que há laranjas e bananas atiradas para o chão, alias nós nem somos assim tão sujos. A seguir a abastecimentos com estes alimentos a estrada passava a ter uma camada de papa pegajosa a cobrir todo o chão e com o bónus de ter cascas de laranja e banana lá pelo meio. Por duas vezes senti os pés a patinar. O ponto positivo foi não ver garrafas de água cheias espalhadas pelo meio da estrada. 

Nesta altura ainda estava a seguir o plano de tomar um gel a cada 5 Km e nos abastecimentos aproveitava apenas a água, mas aos poucos começava a sentir que estava a ser cada vez mais complicado meter um gel para dentro do estômago, até que acabei mesmo por desistir de os tomar.

Km 21 a Km 26

Tinha combinado novamente com a Rita e os meus pais encontrarmo-nos ao Km 23 ou seja novamente na Place de la Bastille mas agora do outro lado, por isso assim que comecei a entrar na praça começo a ficar ansioso e a olhar para todo o lado a ver se os via. Nestas zonas há muita gente na berma da estrada e pode ser complicado encontrar a família, mas pouco depois da saída da praça lá estavam eles :) Grande festa, um beijo rápido e siga que ainda tenho Meia Maratona pela frente. 



Depois da prova disseram-me que apesar de já não estar com um ar tão fresco como ao Km 5, ainda estava com um ar bastante animado, mas foi a ultima vez que disseram isso e ainda me iriam ver em mais 2 locais.

Pouco depois entrei na zona do percurso feita junto ao Sena, que é onde se concentram a maior parte das pessoas que estão a assistir e que foi das partes mais bonitas do percurso apesar de o cansaço começar a instalar-se. Ia-me tentando distrair com a festa que as famílias dos atletas faziam quando os viam e com as belas vistas de Paris. Emocionalmente também estava a ficar mais cansado e dava por mim a ficar emocionado com os encontros dos atletas com as famílias e as frases de motivação escritas nos N cartazes de apoio ao longo do percurso. 

Esta era das zonas mais bonitas do percurso mas também a que teve as partes que menos gostei, os famosos túneis. Estava curioso para ver o tão falado túnel que tinha animação luzes e que parecia uma discoteca. Sinceramente não gostei nada. As luzes era apenas um laser para lá a abanar, e tinha musica sim mas não me senti que fosse a grande animação que tinha lido noutros relatos. Para alem disso estava muito quente e com o ar pesado, foi um alivio quando saí novamente para a Rua.


Na saída deste túnel lembro-me de ir a caminhar e ter 2 jovens bastante entusiasmados a aplaudir e a gritar para todos os atletas, entre gritos de "courage, courage Monsieur, bravo bravo" tinha mesmo de começar novamente a correr.

Km 26 a Km 32

Estava a começar a sentir que o estômago não estava a 100% e que não ia aceitar o gel muitas mais vezes. Ao quilómetro 25 ainda arrisquei meter o gel conforme planeado, acabou por não ser boa ideia e até ao final decidi não tomar mais nenhum para não complicar mais a coisa. Acabei por ficar pela banana e pelas laranjas dos abastecimentos.

À saída de um dos túneis vinha eu a caminhar e encontro a Mafalda que se fartou de puxar por mim e conseguiu meter-me novamente a correr tendo-me acompanhado sempre com palavras de motivação durante uns metros. Obrigado :) 

Nos quilómetros seguintes acabei por ir alternando a corrida com a caminhada até que ao chegar perto do abastecimento dos 30 Km oiço o meu nome. Eram a Isa e o Vítor que me estavam a apanhar. Seguimos juntos durante um bocado tendo passado juntos o muro dos 30 Km mas um pouco depois disse-lhes para seguirem e voltei a caminhar.


Apesar de já ter as pernas bastante massacradas o que me estava a incomodar mais neste momento era o peito. Não sei explicar bem mas passado umas centenas de metros de re-começar a correr começava a doer-me o peito, pelo que fiquei preocupado e preferi começar a caminhar novamente, acabou por ser assim até ao final :(

Foi em toda a prova o que mais me incomodou porque apesar do cansaço sentia que até era capaz de correr mais do que acabei por correr. Não fiquei com a sensação que a tal dor fosse algo cardíaco até porque não ia com os batimentos assim tão acelerados, não sei se o facto de ter estado constipado a semana anterior e ter passado a prova toda com o nariz a pingar possa ter alguma coisa a ver, mas de qualquer forma estava preocupado e por isso voltava sempre a caminhar.

Apesar de fazer exames regularmente e nunca ter detectado nenhum problema, já tenho consulta marcada para ficar mais descansado.

Km 32

Já a intervalar corrida com caminhada o pior ainda estava por vir. Não sei se foi o famoso muro ou não, mas ao Km 32 passei pela fase mais complicada de toda a prova. Tinha saído da zona do Sena e caminhava / corria novamente numa zona residencial que me iria levar ao Bois de Boulogne.

Estava a ficar desmotivado, mal-disposto, com frio e sem vontade nenhuma de continuar. Foi nesta altura que pensei seriamente em desistir. Passou-me um pouco de tudo pela cabeça. Questionei o que estava ali a fazer, o porquê de me meter nestas parvoíces, disse que nunca mais corria na vida, só queria mesmo era sentar-me ou deitar-me e esperar que me viessem buscar, não queria saber da Maratona para nada, era uma estupidez estar a sujeitar-me a isto.

Foi o meu pior momento na prova, ia caminhando com estes pensamentos até que dei por mim inconscientemente a dirigir-me para um banco no passeio. Foi o ponto de viragem. Gritei um NÃO (foi um grito mas mental) e voltei a olhar para a frente, não ia ficar ali, tinha a família no Km 35, tinham andado atrás de mim na Sport Expo, tinham andado de um lado para o outro durante a prova para me verem e estavam agora à minha espera e a acreditar que eu ia chegar lá, continuar e acabar a prova. Não podia acabar a minha prova ali, não podia dizer que tinha desistido, que tinha ido a Paris e não tinha terminado a Maratona.

Aos poucos fui saindo do estado em que me encontrava, e apesar de ter continuado no regime caminhar / correr devido à questão do peito a cabeça estava mais limpa e novamente com vontade de terminar.

Apesar de ter novamente a cabeça no sitio, antes do fim da prova ainda tive mais uma fonte de preocupação. Depois de ter ido à "árvore-de-banho" no inicio do percurso, desta vez fui visitar o "muro-de-banho" e fiquei um pouco preocupado quando vejo a urina com uma cor bastante acastanhada. Nunca me tinha acontecido tal coisa, ou seja presumo que estivesse bastante desidratado.

Apesar de ter bebido água em todos os abastecimentos deverá ter sido insuficiente. Daqui até ao final e apesar do estômago já não aguentar grande coisa forcei-me a beber ainda mais água para tentar corrigir qualquer coisa que ainda fosse a tempo.

Km 32 a Km 35

Apesar de já estar psicologicamente em melhor estado, estava a ansiar por encontrar novamente a família. Foi numa longa recta pouco antes do quilómetro 35 que finalmente os vejo, vinha a caminhar e vejo a Rita a vir na minha direcção e os meus pais um pouco mais atrás, abracei-me a ela e não consegui evitar lágrimas suar um pouco dos olhos, era demasiada emoção acumulada, e ainda nem sequer tinha chegado ao fim. Estava não só fisicamente cansado mas também psicologicamente.




Dei o cinto com os geis à Rita, já não os ia usar mais, e segui com os meus pais ao lado a incentivarem-me e a dar-me força para o que faltava fazer, foi óptimo e extremamente importante ter a família naquele ponto do percurso. Até que tive de virar à esquerda para uma subida que me iria levar para o que restava da prova e eles seguiram em frente para a meta.




Nesta altura em que ia a caminhar olho para o lado e vejo uma senhora na beira da estrada com um cartaz que se não me engano dizia "Smile, it Hurts Less". Achei extremamente simples e simpático :)

Km 35 a Km 42

Mantive o regime do correr / andar até ao final e aos poucos, mas sempre muito lentamente, os quilómetros iam passando, já tinha desistido de olhar para o relógio para ver a quantos ia pois o relógio tinha uma diferença de cerca de 800 metros a mais em relação à realidade.

A dada altura comecei a tentar fazer algumas contas com o tempo que levava, não porque ia fazer um bom tempo mas porque estava a ficar preocupado com o limite de 6 horas. Mesmo a andar tinha de dar corda aos sapatos. Apesar do limite e até ao final ainda tive de me sentar por duas vezes para aliviar um bocado as costas. Não me sentei com a ideia que tinha no Km 32, a fase do desistir já tinha passado e nestes últimos quilómetros só me passava pela cabeça terminar a prova. A cada passo que dava convencia-me que ia mesmo terminar, ia ter aquela camisola vestida e medalha ao peito. Foi com esta convicção que vi o Km 40 e 41 a passarem. Já só faltava 1 e pouco



Meta

Com o Km 42 estava finalmente a saída do Bois de Boulogne, não que fosse uma zona feia, muito pelo contrário, mas naquela altura só queria terminar a prova. À saída do bosque estava também a família. Aqui já houve um bocado mais de festa, ia terminar, faltavam os 195 metros. Com uns gritos de "corre, a meta é já ali" lá arranquei novamente para pelo menos cortar a meta a correr.



Não sei explicar o que senti quando vi finalmente a passadeira verde, a meta e o arco do Triunfo ao fundo. 5 horas 47 minutos e 40 segundos depois de começar tinha acabado a minha prova mais longa e demorada de sempre, tinha terminado a minha primeira maratona, tinha-me tornado MARATONISTA.

Foram várias as sensações no momento de cortar a meta, alívio, satisfação, e desde logo um grande orgulho. A sensação de felicidade foi surgindo mais tarde, primeiro quando uma simpática funcionária me colocou a medalha ao peito (pequenos gesto mas que faz toda a diferença comparando com o entregar a medalha para a mão) e mais à frente, quando, já mais emocionado, recebi a mais bonita camisola de corrida que alguma vez me deram: a camisola de FINISHER. Só faltava o reencontro com família e amigos.



Já a sorrir vejo os meus amigos maratonistas dos 4 ao Km. Todos tinham terminado com sucesso as suas provas. Depois de uns abraços e felicitações, vejo a Rita abraço-me a ela e aqui já não consegui controlar-me tão bem. Depois de quase 6 horas de prova foi o descarregar de emoções. Depois vêm os meus pais e novamente abraços e algumas lágrimas. Estava feito, tinha conseguido, estava ao pé de família e amigos e estava feliz.


Bonita lembrança dada pelo Nuno. Muito Obrigado
De regresso ao apartamento tomei um óptimo banho e passei o resto do dia esticado no sofá a descansar. No dia seguinte estava dorido claro, mas sinceramente pensei que fosse ficar pior. E para recuperar da Maratona de Paris não há melhor do que passar o resto da semana a andar e visitar esta bela cidade e a passear a camisola de finisher.




Para quem conseguiu chegar ao fim deste longo relato e quiser ainda perder mais tempo fica o álbum das fotos:
A minha corrida

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A 42.195 metros de ser feliz

23:19 15 Comments

Apesar das 25 semanas que teve o meu plano de treinos o inicio desta história começa bem antes, mais precisamente no dia 21 de Abril quando li no blog do João Lima que estavam abertas as inscrições para o sorteio da Maratona de Paris. Como a inscrição no sorteio era gratuita não pensei muito, foi mais "deixa cá preencher o formulário e ver no que dá". 

Pois bem, no dia dia 23 de Abril tinha um e-mail que começava da seguinte forma:

"Félicitations, vous avez été tiré au sort pour participer à l'édition 2015 du Schneider Electric Marathon de Paris"

Nesta altura sim, comecei a pensar e muito, tinha até 4 de Maio para confirmar e pagar a inscrição e foi quase até a ultima que continuei a pensar no que devia fazer. As duvidas eram imensas, nunca tinha feito mais do que uma Meia Maratona, tinha muitas duvidas na minha capacidade para fazer a versão completa e principalmente treinar para ela, vinha de uma fascite plantar e de uma fase de desmotivação que resultou em quase 0 treinos nos primeiros meses de 2014, portanto  apesar de existir a vontade, a parte mais racional dizia-me que ir a Paris fazer a mítica distância era uma loucura.

Na corrida do 1º de Maio fiz a prova quase toda na companhia do João Lima que me foi sempre a incentivar para aproveitar a oportunidade e aceitar a inscrição na prova. Com o incentivo dele e da minha mulher (Rita) acabei por deixar a parte racional de lado e abraçar a vontade enorme que tinha de me inscrever para a estreia na Maratona e logo na bela Paris.



E foi assim que com pouco menos de 1 ano de antecedência tinha avião e apartamento marcado para Paris e 42 quilómetros para fazer no dia 12 de Abril de 2015. Nunca tinha planeado e marcado uma viagem tanto tempo antes, devia estar louco.

Tinha decidido começar a treinar em Outubro depois de voltar de férias, dava-me cerca de 6 meses de treino, o que para uma primeira Maratona me pareceu bem, o passo seguinte foi fazer o plano de treinos que me ia acompanhar nas 25 semanas seguintes.

Já que tinha tempo preferi ir aumentando os quilómetros com calma e fazendo ciclos de 3 semanas de treino com 1 semana mais de recuperação entre eles. Desta maneira consegui ir desde os 22 quilómetros até aos 30 sem grandes problemas.




A ideia era ter 3 tipos de treinos de corrida diferentes: Lento / Recuperação, Séries / Fartlek a meio da semana e o obrigatório treino Longo ao fim de semana. A juntar aos treinos de corrida ia (agora posso dizer que ia era mesmo a expressão certa) fazer reforço muscular e tentar perder peso até chegar aos 77 Kg (fiquei-me pela tentativa)

A preparação começou no dia 21 de Outubro mas apesar de ter já a Maratona de Paris em mente, as primeiras semana de treino foram também a pensar no Trail do Zêzere (versão mini) que ia ter 17 Km. Nesta fase os treinos longos eram (comparando com o que fiz no final da preparação) curtos, mas também como tinha estado de férias não queria entrar logo a matar, tendo em conta o trail optei também por fazer treinos em terreno mais acidentado. Assim os fins de semana passaram-se com treinos entre 15 a 17 Km e com o Trail pelo meio que me deu bastante gozo a fazer. 



Terminado o trail o foco passou todo para a Maratona e no dia 22 de Novembro bati o meu record de distância, é verdade que foram só 200 metros a mais, mas foi a primeira vez que passei a distância da Meia Maratona, foi duro a partir do quilómetro 18, mas cheguei aos 22 bastante satisfeito e motivado por ter ultrapassado esta barreira.

Nos meses seguintes continuei a quebrar o meu record de distância, ou não fosse o plano de treinos incremental nesse aspecto. Com a regularidade que ia tendo nos treinos o total de quilómetros no fim do mês também aumentou para os meus melhores números desde que comecei a correr e foi assim que consegui em Dezembro ter o meu melhor mês de sempre com 168 Km feitos. Para chegar a estes números também tenho de agradecer a todo o apoio e incentivo que tive da Rita, se não fosse ela alguns dias tinha ficado no sofá em vez de ter ido correr.

O mês de Dezembro trouxe também um novo Record Pessoal aos 10 Km, foi um record completamente inesperado já que apesar de andar a fazer treinos de séries não andava preocupado com tempos. Este meu record já vinha de 2011 e foi no último dia de 2014 na Corrida de São Silvestre da Amadora que caiu em cerca de 45 segundos estando agora nos 53:03.




Como queria cumprir todos os treinos longos planeados acabei por abdicar de algumas provas que gostava de ter feito, era uma questão de opções e a Maratona era mais importante. Mesmo assim houve 2 provas que não quis abdicar: GP Fim da Europa (17 Km) e o GP de Mem Martins (10 Km). Estas duas provas correram bastante bem mas mesmo assim tentei nesses fins de semana fazer, no dia anterior à prova (sábado), os quilómetros que faltavam para ter o total de quilómetros do fim de semana igual ao que deveria ter sido o treino Longo dessa semana.

Para alem de terem corrido bem e servir para correr a um ritmo mais intenso do que nos treinos que vinha a efectuar foi também nestas provas que fiz a minha estreia pelos 4 ao Km depois de ter sido convidado pelo João Lima na corrida do GP Fim da Europa.



Depois do GP Fim da Europa e do GP de Mem Martins era altura de começar com os treinos de 28 Km. O inicio deste ciclo foi a altura mais complicada do plano, vinha de uns treinos de 26 Km bastante sofríveis e estava a entrar numa fase de alguma saturação. Os treinos a meio da semana foram os prejudicados e os que mais ficaram por fazer, mas os longos eram sagrados, esses tinham mesmo de ser feitos (por acaso agora ao ver os números finais vi que na semana 8 falhei um longo de 15 Km, nem me lembrava)

Se os treinos a meio da semana foram os que mais sofreram esta é uma boa altura também para dizer que os treinos de reforço muscular também iam ficando cada vez mais esquecidos, a intenção no inicio no plano era boa, mas mais uma vez (no plano para Arga também aconteceu) não consegui fazer estes treinos com a regularidade que devia. 

O primeiro treino de 28 Km foi uma vitória pessoal, sofri imenso nos últimos 3 quilómetros até chegar Cascais e só uma vontade imensa de chegar ao fim sem parar de correr é que me levou até lá. O segundo treino foi o primeiro e único de todo o plano que não consegui acabar, optei por fazer parte do percurso da antiga Maratona de Lisboa e quando cheguei ao quilómetro 23 já na Almirante Reis tive de ir deixar a corrida e ir a caminhar, mas nem a caminhar consegui completar os 28 Km planeados, fiquei a 3 dessa distância e apanhei o metro para casa. 

Nesta altura tive duvidas do que andava a fazer e se não tinha sido uma parvoíce inscrever-me na Maratona, por outro lado tentava contrariar estes pensamentos ao lembrar-me dos treinos bons que tinha tido e com o já ter feito um treino de 28 quilómetros, sofrido mas concluído. Estava a precisar de um bom treino que me desse um boost de confiança para a parte final do plano. 

Mal eu sabia que esse bom treino iria aparecer logo na semana seguinte. Era o último treino de 28 Km e tinha combinado com o João Lima fazer Cascais - Cais do Sodré, a dada altura começamos a falar de ir até aos 30 Km e no final do treino o meu relógio marcava pela primeira vez 30 Km feitos. Foi o treino que precisava para me aumentar a confiança até ao final do plano.  

Nas semanas seguintes a motivação manteve-se em alta, um treino de 21 Km onde bati o meu record da Meia Maratona e mais um treino de 30 Km onde acabei com a sensação que podia ter continuado mais um bocadinho (só um bocadinho) e a desilusão da Meia Maratona de Lisboa, que apesar de não ter conseguido o que estava à espera não abalou a confiança e motivação para Paris.

As ultimas semanas foram dedicadas a rolar calmamente, a aproveitar o aparecimento do bom tempo com treinos calminhos para não estragar tudo o que foi feito nas ultimas 24 semanas. 

Estes últimos treinos têm sido um pouco nostálgicos (não sei se será a expressão correcta) ao pensar nos últimos 6 meses e nos treinos que fiz até chegar a este ponto em que só faltam 42.195 metros para passar a meta.

Números finais:

  • 69 Treinos de 99 planeados;
  • 812,87 Km de 977 planeados;
    • 83% do plano de treinos concluído
  • 86h 31m 34s de corrida
  • Semana com mais Km's: Semana 10 com 55,93 Km feitos. Curiosamente foi a semana do Natal.
  • Treino mais demorado: 3h 28m 25s no 2º treino de 30 Km
  • Treino com maior Elevação: 257 metros num treino de 24 Km pelo percurso da antiga Maratona de Lisboa

Não posso ir para Paris sem agradecer a todos os que por aqui foram passando ao longo destes últimos meses transmitindo sempre força e motivação para continuar os treinos e atingir a ambicionada meta na Av. Foch em Paris. 



Muito obrigado amigos, de certeza que me irei lembrar de todos ao longo da prova e que as vossas palavras me vão ajudar a percorrer os 42.195 metros que faltam para terminar esta aventura e tornar-me Maratonista.

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