39ª Maratona de Paris

22:37 21 Comments

Depois de bastantes meses à espera, sexta-feira dia 10 de Abril pelas 4 horas da manhã estava finalmente a começar o fim de semana da Maratona. O avião estava marcado para as 06:45 e como de costume nestas situações prefiro ir cedo para o aeroporto. Quando lá cheguei e depois de despachar as malas (tudo o que era de corrida estava na mala de cabine) encontrei-me com os amigos dos 4 ao Km que também iriam para esta aventura, o João Lima, a Isa o Vitor, o Orlando e a família.



A viagem de avião correu sem problemas e chegámos a Paris à hora prevista. Depois de apanhar o autocarro e o metro chegámos ao apartamento que estava reservado à quase um ano. Aliás o nosso anfitrião disse mesmo que éramos os campeões das reservas. Nunca tinha tido uma com tanta antecedência. A ideia era deixar as malas e seguir logo para a Sport Expo e ter o tão ambicionado dorsal nas mãos.

Nos últimos dias tinha estado mais calmo do que pensava que ia estar, mas com o aproximar da hora de levantar o dorsal e ao longo da viagem de metro para a Sport Expo o nervosismo foi aumentando cada vez mais. 



Depois de uma curta fila para entrar estava finalmente lá dentro o espaço era enorme e logo à entrada estavam vários balcões para apresentar o certificado médico (que quem não tivesse não poderia levantar o dorsal). Com o carimbo de válido no certificado passei aos balcões seguintes, os dos dorsais. Não faltavam balcões para levantar o dorsal, todos separados pelos blocos de tempo correspondentes aos da partida e imensos voluntários para que tudo corresse sem problemas.

Foi com bastante emoção que recebi o dorsal e comecei logo a abrir o envelope. 



Os minutos seguintes foram dedicados a uma série de fotos com o dorsal em tudo o que era painéis grandes dedicados à maratona. Passado um bocado encontro-me com os restantes 4 ao Km e tirámos agora as fotos com todos os elementos da equipa e respectivos dorsais.



Com os preciosos dorsais no saco e com a barriga já a dar horas fomos para a Pasta Party. Já não estava muita gente a comer e rapidamente fomos servidos e começamos a degustar aquela fabulosa massa. Não, não era fabulosa, mas com a fome que estava soube bastante bem :)



Nunca tinha estado numa prova desta dimensão e por isso era tudo novidade, para quem está habituado a uma Sport Expo tipo as da Meia da Ponte, entrar neste pavilhão era como entrar noutro mundo. Ao sair da zona dos dorsais passava-se obrigatoriamente no enorme stand da Asics, eu parecia uma criança no meio daquilo todo, olhava para todo o lado a tentar absorver tudo o que se passava à minha volta e arrastando sempre os meus pais e a Rita atrás de mim. Saindo da Asics havia stands de outras marcas de ténis e depois entrava-se numa zona mais dedicada a outro tipo de equipamentos, nutrição e diferentes provas.



Para desespero dos meus pais e da Rita o resto da tarde foi passado a ver todos estes expositores. Quando saímos da feira fomos ainda às compras para o resto da semana e finalmente chegámos ao apartamento. 

Ao chegar ao apartamento sentia-me completamente esgotado, tinha acordado bastante cedo e as muitas horas em pé na Sport Expo tinham deixado marca, mas foi a primeira vez numa coisa desta dimensão e queria aproveitar tudo. Com o cansaço que sentia no final do dia fiquei um pouco preocupado sobre como iria estar no dia da Prova.

Quando acordei no sábado ainda mais preocupado fiquei, já que sentia o corpo todo dorido, era pernas, era costas, era braços, só pensava em como é que ia conseguir correr no dia seguinte. Felizmente ao longo do dia essa sensação foi desaparecendo. Planeámos um dia mais calmo para sábado para que não ficasse muito cansado e por isso demos só uma volta pelo Sacré Coeur de manhã e passámos o almoço e a tarde em casa de um tio da Rita, ou seja foi um dia calminho que deu para descansar e hidratar bem antes da prova. 

À noite estive a preparar o equipamento todo para o dia seguinte e fui para a cama mais mais calmo do que pensava que ia estar.



O dia da prova começou as 07h e para dia de prova nada melhor que acordar com um "Tan Tan tararan Tan Tan Tararaarn" (percebe-me que é a musica do Rocky não se percebe?). Enquanto tomava o pequeno almoço e me equipava continuei a ouvir uma playlist pré-prova. Nos treinos e provas nunca levo musica, mas antes de começar a historia é outra. Quando vou de carro para o local de uma prova gosto de ouvir determinadas musicas. Domingo foram estas:


Pequeno almoço tomado, equipamento vestido e toca a sair para o metro. Nesta altura comecei a sentir-me cada vez mais dentro do ambiente Maratona, ao longo da viagem via-se cada vez mais atletas e é inevitável ficar contagiado pelo entusiasmo que está no ar, especialmente quando se sai do metro na estação a meio dos Champs-Élysées e damos por nós rodeados de milhares de atletas e famílias.




Enquanto subia a Avenida para me encontrar com os meus colegas de equipa deu para ir vendo a partida de outros blocos de tempo que partiam mais cedo. Em frente à Peugeot lá estavam eles e uma surpresa: a Sandra e o Nuno tinham ido de propósito de Portugal para ver a prova.



Conversa para aqui, fotos para ali e estava na hora da despedida da família e de entrar para a zona de partida. O nervosismo aumentava ao mesmo ritmo que o entusiasmo. Aos poucos fomos descendo pelos Champs-Élysées, e sempre que parávamos lá estava eu aos saltinhos no lugar, não conseguia estar parado. 

À hora marcada foi dada a partida, mas primeiro para quem estava do lado esquerdo da Avenida, ou seja lá tive de esperar mais 5 minutos até começar finalmente a correr. Enquanto cruzava a linha da partida só pensava "estou a correr nos Champs-Élysées, estou a correr nos Champs-Élysées"... fantástico. Ao olhar para trás uma vista fantástica dos Champs-Élysées com o Arco do Triunfo ao fundo. Para a frente montes de cabeças e roupas coloridas a encher o que restava da Avenida e até à Place de la Concorde, a aventura estava a começar.



Km 0 a Km 10

Ao contrário de sábado que esteve frio e de chuva, no Domingo o dia estava fantástico e nos quilómetros iniciais sentia-me bastante bem, não era a primeira vez que corria, mas ali tudo era novidade. Havia muitos companheiros de prova de várias nacionalidades e muito publico na rua mas ao contrário do que pensava nem sempre muito participativo. Aliás este foi a única coisa em que fiquei desapontado na prova.

Estes quilómetros iniciais fizeram-se bem, acabei por seguir com o João e fomos sempre conversando e acenando a quem nos ia aplaudindo. Seguíamos na direcção da Place de la Bastille onde estava o 1º abastecimento e onde iria também ter o primeiro encontro com a família, o que resultou numa grande festa :)




Nesta altura ainda continuava maravilhado pelos sítios por onde corria e por todo o ambiente envolvente na prova, tanta gente, tantos sítios emblemáticos era impossível não me sentir maravilhado com tudo. Para contrariar este sentimento de maravilha comecei a sentir que teria de fazer uma paragem técnica, ainda pensei em adiar mas com tantos quilómetros pela frente mais valia despachar isso assim que possível, mas nada de casas de banho por ali.



Sabia que em breve imos entrar no Bois de Vincennes e de certeza que não iam faltar árvores por lá. Nestes coisas os homens têm mais facilidade que as mulheres, mas assim que apareceram as primeiras árvores foi ver não só homens mas também mulheres a sair da estrada para ir à primeira árvore que aparecia fazer o que havia a fazer, nunca tinha visto nada assim, a corrida realmente liberta as pessoas, nesta altura não havia qualquer pudor. Aproveitei e fui também a uma árvore despachar o problema. Descobri depois que 500 metros mais à frente havia casas de banho...

Tinha combinado com o João previamente que ele seguia um pouco mais devagar e que eu depois acabava por o apanhar mas com esta ida à "Árvore-de-banho" acabei por perdê-lo de vista e só o voltei a encontrar já depois da meta. Tinha portanto mais 32 Km sozinho pela frente.

Km 10 a Km 21

Nesta fase do percurso não há grande história, fomos correndo pelo bosque até chegar ao impressionante Château de Vincennes onde começámos o retorno para dentro de Paris. Essa re-entrada na cidade aconteceria pouco antes da marca da Meia Maratona.

Nestes quilómetros ainda deu para conversar com 2 outros atletas. O 1º era o Marcelo atleta brasileiro mas também com nacionalidade Portuguesa (alias era a nacionalidade do dorsal) e que tinha vindo do Rio de Janeiro para fazer a sua primeira Maratona, e tal como eu também tinha feito no máximo 30 Km. Segui à conversa com ele durante cerca de um quilómetro mas como estávamos a seguir a um ritmo superior ao que eu queria fazer acabei por me despedir e ficar para trás. Mais à frente a história de vir a Paris para a 1ª Maratona repetia-se mas desta vez com um atleta do Alaska. 


Ao longo de todo o percurso ia sempre olhando para os lados a ver se via alguém conhecido e algures para o Km 15 foi a vez da Sandra e do Nuno que estavam por ali a tirar fotos e a incentivar, nova festa, acenos e siga.

Tinha ideia que os abastecimentos estavam de 5 em 5 Km e ao ver-me aproximar do Km 15 decidi mandar a agua que ainda tinha na garrafa fora para apanhar uma nova que estivesse fresca. O problema foi que o abastecimento teimava em não aparecer e comecei a ficar preocupado e a insultar-me pela estupidez de mandar fora a água antes de ter uma nova na mão. Mais perto do 16 aparece finalmente a placa a dizer que daqui a 200 metros estaria o esperado abastecimento. 

Mas a historia da água não fica por aqui. Com uma garrafa nova na mão segui viagem e um pouco mais à frente num dos vários acenos de agradecimento que vinha a fazer, a garrafa ganha vida e salta-me para o chão. Com a atrapalhação e para não estar a parar e a baixar-me para a apanhar acabei por seguir. Com o passar dos quilómetros e mais para o fim da prova questionei-me se teria sido a melhor opção.

Ao sair do bosque entrámos numa zona residencial que se iria prolongar até uns quilómetros à frente da Meia Maratona. Ao passar neste ponto estava novo abastecimento e vi que não é só em Portugal que há laranjas e bananas atiradas para o chão, alias nós nem somos assim tão sujos. A seguir a abastecimentos com estes alimentos a estrada passava a ter uma camada de papa pegajosa a cobrir todo o chão e com o bónus de ter cascas de laranja e banana lá pelo meio. Por duas vezes senti os pés a patinar. O ponto positivo foi não ver garrafas de água cheias espalhadas pelo meio da estrada. 

Nesta altura ainda estava a seguir o plano de tomar um gel a cada 5 Km e nos abastecimentos aproveitava apenas a água, mas aos poucos começava a sentir que estava a ser cada vez mais complicado meter um gel para dentro do estômago, até que acabei mesmo por desistir de os tomar.

Km 21 a Km 26

Tinha combinado novamente com a Rita e os meus pais encontrarmo-nos ao Km 23 ou seja novamente na Place de la Bastille mas agora do outro lado, por isso assim que comecei a entrar na praça começo a ficar ansioso e a olhar para todo o lado a ver se os via. Nestas zonas há muita gente na berma da estrada e pode ser complicado encontrar a família, mas pouco depois da saída da praça lá estavam eles :) Grande festa, um beijo rápido e siga que ainda tenho Meia Maratona pela frente. 



Depois da prova disseram-me que apesar de já não estar com um ar tão fresco como ao Km 5, ainda estava com um ar bastante animado, mas foi a ultima vez que disseram isso e ainda me iriam ver em mais 2 locais.

Pouco depois entrei na zona do percurso feita junto ao Sena, que é onde se concentram a maior parte das pessoas que estão a assistir e que foi das partes mais bonitas do percurso apesar de o cansaço começar a instalar-se. Ia-me tentando distrair com a festa que as famílias dos atletas faziam quando os viam e com as belas vistas de Paris. Emocionalmente também estava a ficar mais cansado e dava por mim a ficar emocionado com os encontros dos atletas com as famílias e as frases de motivação escritas nos N cartazes de apoio ao longo do percurso. 

Esta era das zonas mais bonitas do percurso mas também a que teve as partes que menos gostei, os famosos túneis. Estava curioso para ver o tão falado túnel que tinha animação luzes e que parecia uma discoteca. Sinceramente não gostei nada. As luzes era apenas um laser para lá a abanar, e tinha musica sim mas não me senti que fosse a grande animação que tinha lido noutros relatos. Para alem disso estava muito quente e com o ar pesado, foi um alivio quando saí novamente para a Rua.


Na saída deste túnel lembro-me de ir a caminhar e ter 2 jovens bastante entusiasmados a aplaudir e a gritar para todos os atletas, entre gritos de "courage, courage Monsieur, bravo bravo" tinha mesmo de começar novamente a correr.

Km 26 a Km 32

Estava a começar a sentir que o estômago não estava a 100% e que não ia aceitar o gel muitas mais vezes. Ao quilómetro 25 ainda arrisquei meter o gel conforme planeado, acabou por não ser boa ideia e até ao final decidi não tomar mais nenhum para não complicar mais a coisa. Acabei por ficar pela banana e pelas laranjas dos abastecimentos.

À saída de um dos túneis vinha eu a caminhar e encontro a Mafalda que se fartou de puxar por mim e conseguiu meter-me novamente a correr tendo-me acompanhado sempre com palavras de motivação durante uns metros. Obrigado :) 

Nos quilómetros seguintes acabei por ir alternando a corrida com a caminhada até que ao chegar perto do abastecimento dos 30 Km oiço o meu nome. Eram a Isa e o Vítor que me estavam a apanhar. Seguimos juntos durante um bocado tendo passado juntos o muro dos 30 Km mas um pouco depois disse-lhes para seguirem e voltei a caminhar.


Apesar de já ter as pernas bastante massacradas o que me estava a incomodar mais neste momento era o peito. Não sei explicar bem mas passado umas centenas de metros de re-começar a correr começava a doer-me o peito, pelo que fiquei preocupado e preferi começar a caminhar novamente, acabou por ser assim até ao final :(

Foi em toda a prova o que mais me incomodou porque apesar do cansaço sentia que até era capaz de correr mais do que acabei por correr. Não fiquei com a sensação que a tal dor fosse algo cardíaco até porque não ia com os batimentos assim tão acelerados, não sei se o facto de ter estado constipado a semana anterior e ter passado a prova toda com o nariz a pingar possa ter alguma coisa a ver, mas de qualquer forma estava preocupado e por isso voltava sempre a caminhar.

Apesar de fazer exames regularmente e nunca ter detectado nenhum problema, já tenho consulta marcada para ficar mais descansado.

Km 32

Já a intervalar corrida com caminhada o pior ainda estava por vir. Não sei se foi o famoso muro ou não, mas ao Km 32 passei pela fase mais complicada de toda a prova. Tinha saído da zona do Sena e caminhava / corria novamente numa zona residencial que me iria levar ao Bois de Boulogne.

Estava a ficar desmotivado, mal-disposto, com frio e sem vontade nenhuma de continuar. Foi nesta altura que pensei seriamente em desistir. Passou-me um pouco de tudo pela cabeça. Questionei o que estava ali a fazer, o porquê de me meter nestas parvoíces, disse que nunca mais corria na vida, só queria mesmo era sentar-me ou deitar-me e esperar que me viessem buscar, não queria saber da Maratona para nada, era uma estupidez estar a sujeitar-me a isto.

Foi o meu pior momento na prova, ia caminhando com estes pensamentos até que dei por mim inconscientemente a dirigir-me para um banco no passeio. Foi o ponto de viragem. Gritei um NÃO (foi um grito mas mental) e voltei a olhar para a frente, não ia ficar ali, tinha a família no Km 35, tinham andado atrás de mim na Sport Expo, tinham andado de um lado para o outro durante a prova para me verem e estavam agora à minha espera e a acreditar que eu ia chegar lá, continuar e acabar a prova. Não podia acabar a minha prova ali, não podia dizer que tinha desistido, que tinha ido a Paris e não tinha terminado a Maratona.

Aos poucos fui saindo do estado em que me encontrava, e apesar de ter continuado no regime caminhar / correr devido à questão do peito a cabeça estava mais limpa e novamente com vontade de terminar.

Apesar de ter novamente a cabeça no sitio, antes do fim da prova ainda tive mais uma fonte de preocupação. Depois de ter ido à "árvore-de-banho" no inicio do percurso, desta vez fui visitar o "muro-de-banho" e fiquei um pouco preocupado quando vejo a urina com uma cor bastante acastanhada. Nunca me tinha acontecido tal coisa, ou seja presumo que estivesse bastante desidratado.

Apesar de ter bebido água em todos os abastecimentos deverá ter sido insuficiente. Daqui até ao final e apesar do estômago já não aguentar grande coisa forcei-me a beber ainda mais água para tentar corrigir qualquer coisa que ainda fosse a tempo.

Km 32 a Km 35

Apesar de já estar psicologicamente em melhor estado, estava a ansiar por encontrar novamente a família. Foi numa longa recta pouco antes do quilómetro 35 que finalmente os vejo, vinha a caminhar e vejo a Rita a vir na minha direcção e os meus pais um pouco mais atrás, abracei-me a ela e não consegui evitar lágrimas suar um pouco dos olhos, era demasiada emoção acumulada, e ainda nem sequer tinha chegado ao fim. Estava não só fisicamente cansado mas também psicologicamente.




Dei o cinto com os geis à Rita, já não os ia usar mais, e segui com os meus pais ao lado a incentivarem-me e a dar-me força para o que faltava fazer, foi óptimo e extremamente importante ter a família naquele ponto do percurso. Até que tive de virar à esquerda para uma subida que me iria levar para o que restava da prova e eles seguiram em frente para a meta.




Nesta altura em que ia a caminhar olho para o lado e vejo uma senhora na beira da estrada com um cartaz que se não me engano dizia "Smile, it Hurts Less". Achei extremamente simples e simpático :)

Km 35 a Km 42

Mantive o regime do correr / andar até ao final e aos poucos, mas sempre muito lentamente, os quilómetros iam passando, já tinha desistido de olhar para o relógio para ver a quantos ia pois o relógio tinha uma diferença de cerca de 800 metros a mais em relação à realidade.

A dada altura comecei a tentar fazer algumas contas com o tempo que levava, não porque ia fazer um bom tempo mas porque estava a ficar preocupado com o limite de 6 horas. Mesmo a andar tinha de dar corda aos sapatos. Apesar do limite e até ao final ainda tive de me sentar por duas vezes para aliviar um bocado as costas. Não me sentei com a ideia que tinha no Km 32, a fase do desistir já tinha passado e nestes últimos quilómetros só me passava pela cabeça terminar a prova. A cada passo que dava convencia-me que ia mesmo terminar, ia ter aquela camisola vestida e medalha ao peito. Foi com esta convicção que vi o Km 40 e 41 a passarem. Já só faltava 1 e pouco



Meta

Com o Km 42 estava finalmente a saída do Bois de Boulogne, não que fosse uma zona feia, muito pelo contrário, mas naquela altura só queria terminar a prova. À saída do bosque estava também a família. Aqui já houve um bocado mais de festa, ia terminar, faltavam os 195 metros. Com uns gritos de "corre, a meta é já ali" lá arranquei novamente para pelo menos cortar a meta a correr.



Não sei explicar o que senti quando vi finalmente a passadeira verde, a meta e o arco do Triunfo ao fundo. 5 horas 47 minutos e 40 segundos depois de começar tinha acabado a minha prova mais longa e demorada de sempre, tinha terminado a minha primeira maratona, tinha-me tornado MARATONISTA.

Foram várias as sensações no momento de cortar a meta, alívio, satisfação, e desde logo um grande orgulho. A sensação de felicidade foi surgindo mais tarde, primeiro quando uma simpática funcionária me colocou a medalha ao peito (pequenos gesto mas que faz toda a diferença comparando com o entregar a medalha para a mão) e mais à frente, quando, já mais emocionado, recebi a mais bonita camisola de corrida que alguma vez me deram: a camisola de FINISHER. Só faltava o reencontro com família e amigos.



Já a sorrir vejo os meus amigos maratonistas dos 4 ao Km. Todos tinham terminado com sucesso as suas provas. Depois de uns abraços e felicitações, vejo a Rita abraço-me a ela e aqui já não consegui controlar-me tão bem. Depois de quase 6 horas de prova foi o descarregar de emoções. Depois vêm os meus pais e novamente abraços e algumas lágrimas. Estava feito, tinha conseguido, estava ao pé de família e amigos e estava feliz.


Bonita lembrança dada pelo Nuno. Muito Obrigado
De regresso ao apartamento tomei um óptimo banho e passei o resto do dia esticado no sofá a descansar. No dia seguinte estava dorido claro, mas sinceramente pensei que fosse ficar pior. E para recuperar da Maratona de Paris não há melhor do que passar o resto da semana a andar e visitar esta bela cidade e a passear a camisola de finisher.




Para quem conseguiu chegar ao fim deste longo relato e quiser ainda perder mais tempo fica o álbum das fotos:
A minha corrida

21 comentários:

  1. Mais uma vez Parabéns Rapaz! És uma máquina TOP!
    Abraço

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  2. João, foi um prazer acompanhar a tua viagem de meses até ao arco do triunfo. Assisti ao teu empenho na primeira fila, por isso fiquei muito satisfeito quando soube que te tornaste maratonista, como merecias! Travaste uma batalha brutal e épica em Paris, como não podia deixar de ser! Espectacular a descrição do click que sentiste quando começaste a andar para o banco! Revi-me na minha primeira maratona e derrubei o muro contigo. Que viagem!! Muitos muitos parabéns João, foi brutal como é sempre a maratona. Não há prova igual. Agora vamos ao próximo!

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    1. Obrigado Filipe,

      O momento dos 32 Km foi realmente estranho, dar por mim a andar sozinho para um banco sem o fazer conscientemente foi uma experiência nova. Toda a prova valeu mesmo por isso um conjunto de experiências fantásticas e que apesar de duras valeram muito a pena.

      Abraço

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  3. Grande João!
    Se uma Maratona fosse fácil, não era uma Maratona :)
    Felizmente deste aquele grito interior quando querias desistir aos 32. Sofreste até final mas o sofrimento transformou-se num orgulho eterno. Se tivesses desistido, irias sofrer para sempre com esse momento (apesar de já ter feito mais 3 depois, ainda tenho uma ferida aberta por aquela de Lisboa...)

    Muitos e muitos parabéns, Maratonista João!

    Um grande abraço

    ps - E o "mal" foi fazeres uma. Agora, é uma "doença" para sempre, cujo antídoto é mais uma e outra e outra :)

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    1. Sim, felizmente até hoje nunca tive de desistir numa prova mas deve deixar marcas.

      Mas aposto que em Outubro deste ano vais vingar a Maratona de Lisboa, com o embalo que levas desta vai correr bem.

      Quanto ao repetir, já falámos sobre isso vamos a ver :)

      Abraço

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  4. Parabéns João. É mesmo disto que são feitos os maratonista e as maratonas: morrer e ressuscitar! Foi o que te aconteceu quando ias em direção ao banco. E acredita, se te tivesses chegado a sentar, hoje o teu texto seria completamente diferente!

    Acho que não terá sido boa ideia os geis de 5 em 5kms. Deve ter sido isso que te prejudicou o estômago. Com um reforço alimentar adequado na semana antes da corrida, poderias começar a tomar o gel só a partir do meio da prova e de 7 em 7kms.

    Mas o que importa é que terminaste a tua primeira maratona e, tal como me disseram no meu primeiro ultra, o importante é terminar, o tempos ficam para a próxima! Por isso, não deixes que este tempo de prova te desanime. Com o treino vais melhorar! :)

    De novo, muitos parabéns e um abraço!

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    1. Parece parvoice mas uns uns dias antes estava a comentar com a Rita, algo do tipo que não podia desistir senão depois o que é que vinha aqui escrever no blog, felizmente não foi preciso pensar nesse texto e apesar da dureza da prova foi uma grande experiência.

      Não fiquei muito (só um bocadinho) desanimado com o tempo, afinal o importante era terminar a prova e isso foi conseguido.

      Para a próxima (sim já penso nela, isto é viciante) mais do que o tempo é terminar sem problema de estômago e sem tanto sofrimento.

      Abraço e força para Paris

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  5. Parabéns, tinha aqui escrito umas palavras de apoio, mas o browser comeu-mas! Bem, quero dar-te os parabéns!

    Para as próximas maratonas que fizeres, com experiência, vais conseguir melhorar!

    Abraço

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    1. Obrigado Sérgio.

      A ideia é essa já na próxima, até mais do que melhorar o tempo quero melhorar as sensações ao longo da prova.

      Abraço

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    2. Na minha primeira aconteceu-me o mesmo, em 2013, acabei a prova debaixo de 34ºC de temperatura. Tive caimbras, passei mal, tinha avaliado mal o esforço, em vez das 3h45m que tinha previstas, acabei com 4h13m

      Em 2014, já sabia ao que ia, fiz treinos e gestão de esforço bem planeada, fi-la toda a correr ao ritmo que planeara, fiz 3h36m, ou seja consegui tirar cerca de 40 minutos ao meu PBT

      Contigo vai ser o mesmo, na próxima já sabes o que te espera, vais dosear o esforço de uma maneira totalmente diferente

      Abraço

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  6. Parabéns Cravo Maratonista!
    Relato espectacular!
    Que seja a primeira de muitas!
    Forte abraço.

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    1. Obrigado Jorge,

      Espero que sim até porque há uma serie delas em que gostava de participar.

      Abraço

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  7. Parabéns João.

    Grande esforço e um enorme espirito de sacrificio.
    Venham as próximas cada vez melhores.

    Abraço

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    1. Obrigado Tiago,

      O objectivo é esse melhorar na próxima, principalmente as sensações ao longo da prova.

      Abraço

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  8. Muitos parabéns, João!
    Esta prova, estas memórias, vão ficar-te sempre na memória. Foste Maratonista em Paris e é isso que te vais lembrar para sempre! Daqui a uns tempos já esqueceste as dificuldades e até vais começa a pensar na próxima... ;)
    Beijinhos!

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    1. Obrigado Rute, foi mesmo uma experiência que fica na memória para sempre.

      Tens razão no que dizes das dificuldade. Lembro-me delas, mas tento convencer-me que não foram assim tão difíceis.

      E já vou pensando na próxima :)

      Beijinhos

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  9. Muitos parabéns colega :) ...grande luta a tua, excelente história de superação que te vai ajudar em aventuras futuras. A primeira já cá canta e isso é que é importante. Foi um prazer acompanhar a tua preparação e fiquei muito feliz por teres colocado a cereja no topo do bolo...És MARATONISTA carago!!!
    Grande abraço

    P.S. Acho estranho o público não incentivar como estavas à espera...à dois anos foi do primeiro ao último metro!

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    1. Obrigado Carlos, foi realmente complicado mas de certa maneira fico contente por ter sido assim, Foram momentos importantes e que vão de certeza ajudar no futuro.

      Em relação ao publico não sei se foi por ter saído no ultimo grupo, ou se foi por ter as expectativas demasiado altas.

      Grande Abraço

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  10. Nunca é demais dizer, PARABÉNS GRANDE MARATONISTA!
    João, fiquei emocionada ao ler o teu relato, enquanto lia só pensava "Isto é uma maratona", estes altos e baixos, esta vontade de mandar tudo às urtigas, o questionar o que estamos ali a fazer, o pensar em nunca mais correr outra. Faz tudo parte e é uma grande lição de vida.

    Viveste um dos momentos mais marcantes da tua vida! E logo em Paris!

    Parabéns por tudo!!!

    Beijinhos maratonista :)

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    1. Muito Obrigado Isa,

      Foi uma experiência do caraças, os bons momentos, as dificuldades, as emoções, fico contente por ter sido como foi. Tudo fez parte da experiência e é como dizes uma lição de vida.

      Obrigado pela companhia e força.

      Beijinhos

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