34ª Maratona de Sevilha

Há três anos atrás fiz a minha primeira Maratona em Paris. Não correu como o esperado e estive muito tempo sem vontade nenhuma de repetir a experiência. Em Fevereiro do ano passado li este post do João Lima e deu-se o "click". A 29 de Março fiz a inscrição para a Maratona de Sevilha de 2018, e hoje posso dizer que ainda bem que o fiz!

Os Treinos
Comecei a treinar para esta prova no final de Outubro. Sabia que tinha uma base de corrida em 2017 bastante curta e que o plano ia aumentar muito a quantidade de quilómetros, e com grande intensidade.

Quando ia bem embalado nos treinos deu-se o problema do joelho. Felizmente não passou de um susto. Se calhar até houve excesso de zelo da minha parte, mas na altura fiquei mesmo preocupado. O resultado foi um mês de paragem, logo na altura mais crítica do plano.

Quando voltei a treinar já não o fiz com a mesma frequência e dei prioridade máxima aos treinos longos. Durante a semana reduzi muito os treinos de corrida e troquei alguns por bicicleta.

Cheguei à Maratona de Sevilha com 36 treinos de corrida e um total de 418 Km's. Muito longe do que queria ter feito. Mas curiosamente sentia-me preparado, especialmente a nível psicológico. Sentia que estava muito mais forte do que em 2015.

Acho que estes três anos que passaram, e a participação em alguns triatlos de distância olímpica, ensinaram-me a gerir melhor o esforço e as emoções ao longo da prova. Apesar de ter menos quilómetros nas pernas, em comparação com a anterior maratona, sentia-me mais preparado.

A Prova
Fui para Sevilha sábado de manhã com uma larga comitiva de apoio. Depois de levantar o dorsal, almoçar na pasta party e voltar a casa, optei por ir dar uma corridinha de cerca de três quilómetros. A ideia era só mexer um pouco as pernas, depois de tantas horas de viagem no carro.

Rapidamente era hora de jantar, e de dormir... supostamente. Tal como antes de todas as provas "grandes", demorei imenso para conseguir adormecer, o que resultou numas 3 ou 4 horas de sono! Tenho mesmo de conseguir resolver este "problema".

No dia da prova, depois de deixar o carro no estacionamento do estádio, fomos todos para a partida, que era mesmo ali perto. Sim, todos, porque toda a minha comitiva se levantou à mesma hora que eu  (de madrugada), para me apoiarem ao longo dos quarenta e dois quilómetros.

Quase às 08:30, estava na altura de um "até já" e de ir para o meu "curral" de partida. Não foi difícil lá chegar, era o último para mais de 4 horas de prova!


Alguns nervos (muitos) antes do início, e ao som da "Highway to Hell", comecei a minha prova. Estava nervoso, mas convicto que ia chegar ao final!

Os primeiros quilómetros foram feitos a tentar encontrar a minha posição nos quase 13000 atletas que participavam. Acabei por ir a correr à frente de um grande grupo de atletas que empurravam pessoas em cadeiras de rodas e que transportavam com eles umas colunas com o som bem alto!

Foi ao som de AC/DC e de Guns N' Roses que fiz os primeiros quilómetros e onde comecei logo a perceber o que era a Maratona de Sevilha.

Os primeiros cinco quilómetros são feitos na zona de Triana e logo aí percebi o quão envolvidos na prova estão os sevilhanos. As pessoas iam para a rua ver e incentivar os atletas. Gritos de "Animo, Animo", "Venga campeone", foram uma constante ao longo de toda a prova. 

Não há palavras para agradecer a enorme ajuda que a população de Sevilha dá e o bom ambiente que criam nesta prova.

Depois de passar a ponte que nos fazia sair da "Isla de la Cartuja", comecei a fazer as contas para os quilómetros que faltavam para ver a minha claque. Perto dos 8 km conforme combinado, lá estavam eles a fazer uma grande festa.


Aos oito quilómetros de prova, ia a sentir-me bem (com mais trinta e quatro quilómetros pela frente era melhor que assim não fosse!). Ia com a respiração e a pulsação controlada e a curtir todo o ambiente.

Enquanto os quilómetros passavam eu ia pensando no que tinha sido a prova de Paris e no que esta estava a ser. Não quis cometer alguns erros que cometi na altura. Desta vez tinha hidratado bem nos dias anteriores, não tinha passado horas em pé e a caminhar no dia anterior à prova, e estava a beber água em todos os abastecimentos. De acordo com o plano, estava também tomar um gel a cada dez quilómetros.

Ao chegar perto do quilómetro quinze, nova passagem pela claque e nova festa. Aproveitei para deixar o corta-vento que já vinha há muito tempo enrolado à cintura. O tempo esteve excelente durante toda a prova!


A próxima vez que os ia ver seria já ao quilómetro vinte e oito, e não sabia em que estado ia lá chegar.

Mesmo nas zonas mais fora do centro da cidade havia pessoas a apoiar, não tanto como no centro, mas encontrava-se sempre alguém a bater palmas ou crianças de braço esticado à espera de um High-five.

Só houve dois momentos na prova em que passei pior, e nesta zona foi um deles. Não tive nenhuma dificuldade física em particular, mas foi um dos momentos em que me senti um pouco mais cansado e ligeiramente saturado. Estava numa longa recta de três quilómetros, entre o dezassete e o vinte. Corria, corria e parecia que não saia do mesmo sítio.

Mas há coisas que nos fazem relativizar as dificuldades que sentimos e o facto de ir grande parte da prova, ora à frente, ora atrás deste senhor e do seu filho foi uma delas. Foram várias as vezes que me comovi ao ver a força de vontade desta pessoa, e a festa que toda a gente fazia ao ver passar o Pablo.

Depois da passagem na Meia Maratona, com 02:25:09, faltavam cerca de sete quilómetros para voltar a ver a claque.

Perto do quilómetro vinte e oito lá estavam eles, novamente uma grande festa, onde até deu para dar uma voltinha de 360º, aos saltos ao pé deles. Já tinha passado o ponto onde as coisas começaram a descambar em Paris e sentia-me bem e extremamente motivado para chegar ao final.

O próximo ponto de encontro com a claque seria na meta.


Foi novamente numa recta um pouco a seguir, que senti mais algumas dificuldades. Se até aqui tinha dividido a prova em blocos de cinco quilómetros, a partir desta altura comecei a dividir quilómetro a quilómetro.

A cabeça começava a pedir ao corpo para caminhar, mas sabia que se o fizesse ia ser assim até ao final. A ideia era adiar isso o maior tempo possível.

Foi com este pensamento que consegui chegar sempre a correr ao quilómetro 33 (o anterior máximo sempre a correr eram 30). Ao nível do percurso tinham acabado as "voltas" por Sevilha e agora a direcção era sempre para Norte onde estava a meta.

Daqui para a frente tentei usar a táctica do andar 200 metros e correr 800. Mas vinha aí a parte da prova que tinha mais expectativas de fazer!

Ao entrar na zona da Praça de Espanha, e até à meta, fui sempre acompanhado de gritos de apoio. "Animo, Animo, Campeon! Vamos Joao!" (O dorsal tinha o meu nome). Foram uma constante e uma importante ajuda.

Depois da Praça de Espanha, vinha a Catedral e pessoas de ambos os lados da estrada a gritar. A isso juntavam-se os atletas que já tinham terminado e voltavam para aquela zona.

Perto do quilómetro trinta e oito, parei de correr para caminhar durante um bocado. Acontece que parei mesmo ao pé de um atleta que já tinha terminado. Fartou-se de puxar por mim e inclusive empurrar-me para recomeçar a correr. Claro que tive de o fazer.

Confesso que, a dada altura, ao olhar para os tempos que estava a conseguir, comecei a fazer contas  e a pensar que podia ser possível terminar em menos de 5 horas. Mas já ia cada vez mais cansado e a ter de fazer mais intervalos para caminhar. Foi um pensamento sem grande convicção.

Quando vejo finalmente o túnel de acesso ao estádio, nova onda de emoção. Estava feito, faltava só a volta à pista!

Assim que entro e olho para a bancada, oiço e vejo a minha família. Não consigo descrever os últimos metros da prova, foi uma felicidade enorme cruzar aquela meta.


O tempo final foi de 5:05:50, mas sinceramente isso pouco me importa. Estava, e estou, tremendamente satisfeito. Acho que fiz uma excelente prova. Claro que fisicamente estava muito cansado, (e com um valente empeno no dia seguinte!), mas nunca me senti "perdido" ou a ir-me completamente abaixo como há três anos atrás. Tinha de alguma forma "vingado" a Prova de Paris.

Sinto que passei a prova toda a sorrir!

Esta é, sem dúvida, uma maratona que aconselho vivamente a fazer. Um percurso completamente plano, uma cidade bonita, uma altura do ano em que costuma estar um excelente tempo, um preço acessível e relativamente perto de Portugal. Os abastecimentos são de 2,5 em 2,5 quilómetros e os voluntários que lá estão são mesmo incansáveis a puxar por nós. Não consigo encontrar pontos negativos nesta prova.

Não posso terminar sem falar novamente do ambiente e do público sevilhano. Vive-se intensamente a maratona naquela cidade, todos estão envolvidos. Dá um gosto enorme percorrer aquelas ruas e ir agradecendo o incansável apoio que nos dão. Até quem está dentro do carro à espera, por a estrada estar fechada, ou gritava palavras de incentivo lá de dentro ou estava fora do carro a bater palmas. Isto é impensável em Lisboa...

Poucos dias depois de concluída esta Maratona, a vontade é de lá voltar já no próximo ano. Acho que por aí logo se vê o bem que a prova correu!

Quero ainda agradecer à minha família. Mais uma vez acordaram vários dias de madrugada, andaram de um lado para o outro para me verem passar e até tiveram de correr para apanhar o comboio que lhes ia permitir estar no estádio a tempo da minha chegada.

Obrigado, esta medalha também é vossa!


A Minha Prova:

18 comentários:

  1. "Sinto que passei a prova toda a sorrir!"
    Isto é Sevilha!!!

    Fico muito feliz por ti, pois sei bem a felicidade que esta prova transmite. Maravilhoso aquele público. Só falta mesmo pegar-nos ao colo e levar-nos até à meta.

    Felizmente já pudeste ter uma visão diferente da Maratona e mereceste bem cada momento passado!

    E ver aquele túnel... dá cá uma emoção!

    Como aliás emoção foi ler este relato!

    Não tenho mais palavras. Apenas dar-te novamente, e nunca é demais, os parabéns!

    Grande João!!!!!!

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  2. Só mais uma coisa... Tens que ir ao teu separador de melhores tempos actualizar o da Maratona :)

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    1. Obrigado por todo o apoio e incentivo João :)

      Foi o teu relato da prova de 2016 que me fez voltar a vontade de repetir a Maratona, e ainda bem que o fiz. Acho que a grande diferença foi a experiência e a cabeça para ultrapassar os momentos menos bons, que felizmente foram poucos.

      Sevilha é uma prova única. Posso dizer que tenho saudades da prova :)

      PS: O tempo já está actualizado.

      Grande Abraço

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  3. adorei o teu relato da prova! também para nós foi emocionante e emocionante foi também apoiar todos os atletas desta maratona. Parabens João! Tu mereces!

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    1. Obrigado :)

      Para a próxima escolho uma em que não seja preciso correr para o comboio.

      Beijinhos

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  4. Já estou a treinar para a proxima, caminhada e corrida, hehehehehehehehehehehe.

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    1. Para a próxima escolho uma que tenha metro ou comboio no percurso :)

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  5. Ca espectáculo!
    Muitos parabéns!
    Percebe-se pelo teu relato que foste feliz nesta maratona e viveste todos aqueles momentos especiais que fazem a maratona.
    Adoro a foto de grupo! Todos sorridentes, com a bandeira e tu com a medalha :)
    Beijinhos e boa recuperação

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    1. Muito Obrigado,

      Foi sem duvida uma maratona com boas sensações e com cabeça para apreciar toda a prova.

      Beijinhos

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  6. Muitos parabéns, João!
    Mais uma maratona no currículo!
    Que se sigam muitas outras!

    Beijinhos e boa recuperação!

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    1. Obrigado.

      Não sei quando será a próxima, mas desta vez ficou a vontade de repetir.

      Beijinhos

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  7. Muitos parabéns João

    És o maior, mais um sonho realizado.
    És o nosso orgulho e contínua mesmo longe torcemos por ti
    Recupera rápido

    Beijinhos e grande abraço

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    1. Obrigado o vosso apoio também foi muito importante :)

      Beijinhos e Abraço

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  8. Muito bom!! Grande maratona, parabéns! Sevilha é mesmo incrivel, a sensação de entrar no estádio é inesquecivel. Muitos parabéns pela tua excelente prova, foi um prazer acompanhar-te!

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    1. Muito Obrigado Filipe. Sevilha é inesquecível e fica uma vontade enorme de repetir.

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  9. Olá boa noite, mais uma vez parabéns pelo relato da maratona de sevilha e pela conclusão da prova. Também a fiz este ano pela 1ºvez sendo já a minha 3ª. Tenho lido alguns dos teus relatos dos triatlos que tens feitos e a informação que nos transmites é muito importante, daí eu ter aproveitado este da maratona para te pôr algumas questões, caso seja possível. Na transição da natação para a bicicleta, por norma levamos os pés cheios de areia. Calça os sapatos mesmo assim? Com meias ou sem? Costumas ter os sapatos presos ao pedais ou não? Faz-me um pouco de confusão como vamos praticar as 2 seguintes modalidades com areia nos pés, o que não é nada confortável. É que pretendo este ano fazer a estreia no triatlo, daí algumas duvidas. Outra que fazes referência é na transição da bicicleta para a corrida, que sensação estranha dizes sentir? Não nos aguentamos nas pernas? No inicio da pratica do triatlo recomendas as sapatilhas de corrida logo na bicicleta, devido á falta de pratica ou não? Desculpa tanta pergunta. Já agora o meu tempo na maratona de sevilha foi de 3h42m20s, o meu melhor até á data. Abraços e continuação de boas provas.

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    1. Boa Tarde Pedro,

      Antes de mais obrigado e parabéns para ti também, que tempo fantástico fizeste tu em Sevilha!

      Vamos lá as tuas questões do Triatlo. A ideia destes posts é, para além de ficar para memória futura, ajudar quem está a começar na modalidade. Não que eu tenha uma grande experiência, mas as coisas que fui descobrindo e aprendendo podem ser úteis para outros.

      Em relação à areia nos pés, nas provas que fiz em praia (Sines e Oeiras) à saida da areia estavam ou bombeiros com jactos de água ou chuveiros, o que dá para tirar grande parte da areia. Caso fique alguma, e que realmente não é confortável o que eu faço sempre é ter uma garrafa de água a mais que deixo no cesto da transição. Se for preciso despejo-a nos pés para lavar.

      Em relação às meias, há quem faça com meias, há quem faça sem. Eu como não estou habituado a correr sem meias, calço-as sempre na Transição Natação - Ciclismo. Como os pés vêm húmidos, deixo-as dobradas de modo a conseguir enfiar logo a meia até quase ao calcanhar e depois é so desenrolar a parte da perna, se é que me faço entender.

      Não prendo os sapatos de ciclismo aos pedais. Admito que seja uma questão de prática e que se ganhe tempo, já que ir com os sapatos de ciclismo calçados até sair do parque de transição não é nada prático, mas para já prefiro fazer isso do que correr o, muito provável, risco de cair, (se bem que daria certamente fotos memoráveis).

      A transição 2 do Ciclismo para a Corrida convem ser bastante treinada. A sensação estranha não é de fraquesa nas pernas, mas sim de parecer que estão muito pesadas, algo tipo teres dois troncos e que não estás a conseguir correr à velocidade normal, mas depois olho para o relógio para ver o ritmo e até vou mais rápido do que seria conveniente. É algo complicado de explicar, mas assim que experimentares fazer Ciclismo-Corrida, vais perceber. Passado 1 ou 2 km's já esta sensação se desvaneceu e é corrida normal.

      Se recomendo usar sapatilhas de corrida logo na bicicleta é uma boa questão. Eu nunca o fiz, usei sempre sapatos de ciclismo. Se já fazes ciclismo, estás habituado a usar sapatos de encaixe e sabes que o rendimento, e conforto nos pedais, com sapatos desses é maior do que com uns ténis normais, se essa melhoria de rendimento faz diferença no tempo final de num Super-Sprint (com uns 10 Km de bike), já tenho dúvidas, em distâncias maiores já deve fazer e o ganho no conforto também. No meu caso uso sempre sapatos de ciclismo, mas não arranco com eles logo presos aos pedais. Provavelmente perco algum tempo ao correr com eles calçados nas transições, mas prefiro assim.

      Em que prova vais fazer a tua estreia?

      Se tiveres mais dúvidas estás à vontade, vai perguntado, no que conseguir ajudar, este espaço também serve para isso :)

      Abraço

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  10. Olá João, obrigado uma vez mais pelas tuas explicações, sempre esclarecedoras. Tenho 51 anos e dos 7 aos 20 a natação foi o meu desporto de eleição, é claro que neste momento estou sem ritmo, mas penso que em 2 meses consigo ganhá-lo para os 750mt de Oeiras, que era onde gostava de fazer a estreia. De bicicleta nada percebo, nunca fiz ciclismo, mas o objectivo principal é participar e concluir a prova, como acontece nas corridas populares que tenho participado de há 4 anos a esta data. Daí não ter pratica com esses sapatos e estar a pensar entrar na bicicleta com as sapatilhas de corrida. Tentei encontrar-te no facebook não consegui, abraços maratonistas por enquanto.

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